sexta-feira, maio 25, 2007

Proibido Proibir

Pois digo desde já que não sou crítico de cinema, nem quero ser. Aliás, apesar de estudar em um campus onde funciona um dos mais conceituados cursos de cinema do país, pouco sou além de leigo no assunto. Mas amo, e de vez em quando ouso até dar uma opiniãozinha mais, digamos, técnica. Quem não resiste a se sentir sabido, mesmo que não o seja?

Seis linhas só pra dizer que assisti a Proibido Proibir nessa segunda-feira, lá no Cinearte da UFF (O quê?! Cinema dia de semana?! Pois é, desempregado em fim de faculdade tem certos privilégios). Por belíssimos dois reais, tive um bom divertimento.

Pra começar, o filme tem algo que adoro ver no cinema nacional. Cenários nossos, brasileiros, do nosso cotidiano. O cinema hoje em dia tem papel fundamental na construção do imaginário e dos referenciais culturais de um povo. Pois o cinema confere uma aura de existência a tudo o que ele toca, e essa aura que, junto com os outros elementos da nossa vida cultural (como o jornalismo, a música, a televisão etc) nos ajuda na contrução da nossa identidade. Parece meio viagem pseudo-intelectual, mas um exemplo simples pode atestar e esclarecer essa idéia.

Imagine um filme de ação. Nesse filme, além de muito sexo, cenas empolgantes de porradaria e explosões, há, é claro, uma cena de perseguição de carros. Onde seria essa perseguição? Que tal na Golden Gate, em São Francisco? Não é difícil de imaginar um poderoso filme de ação que se passe todo nessa ponte californiana. Agora, imagine se a cena de perseguição é na Ponte Rio-Niterói? Estranho, não? Até um pouco humorístico. É difícil imaginar sem ser brincando um filme com os nossos cenários, assim como é complicado pensar em um vilão de filme de superheróis chamado João. Isso é porque esses nomes e esses lugares, tão nossos, não estão ainda no nosso imaginário cultural, do qual o cinema é elemento indissociável.

Chega de baboseira meio filosófica. O que quero dizer, depois de tantas voltas (se é que você ainda está me lendo), é que a UFRJ, a linha do trem, a Igreja da Penha e o nosso subúrbio estão todos lá no filme. Bem ou mal retratados, não importa. Já bato palmas para essa iniciativa.

Agora, em termos de enredo, roteiro, essas coisas, não achei o filme grandes coisa. Me manteve interessado até o fim, mas não foi muito além disso. Afora o Caio Blat - fenomenal -, as atuações são todas medianas ou pior, o que, nas palavras de um amigo meu, nos faz "descolar um pouco da trama".

Entendo que foi um filme de baixo orçamento, o que pode ter apressado as filmagens. Isso comprometeu um pouco o visual do filme, que poderia ter sido mais bonito. Todas as externas são em dias muito feios, e a fotografia não vai muito além do básico, apesar do fotógrafo Luís Abramo ter realizado alguns planos primorosos em termos de composição.

A trilha sonora só me chamou a atenção por uma coisa: a música "Juízo Final", de Nelson Cavaquinho. Sou amante do estilo, e confesso que fiquei com vontade de ver o filme só porque ouvi esse samba tocando no trailer, antes de uma sessão de "Cartola" no Odeon. Seu tom melancólico e meio profético combina muito com o filme. Isso aliás me leva a uma das questões principais, que é sobre o que o filme trata. Li numa entrevista com o diretor que, originalmente, a história seria passada em 68, mas acabou sendo trazida para os dias de hoje. A idéia seria falar sobre as mazelas do país e sobre como a juventude contemporânea lida com elas. Mais especificamente a juventude classe média, que freqüenta as universidades.

E isso é passado de maneira não mais que "legal". Assim como a história em si não é mais do que divertida, a abordagem temática e reflexiva não é muito mais do que "interessante", mostrando o jovem "porra louca" e apolítico, mas de bom coração (Caio Blat), como o retrato da nossa juventude de hoje. Os personagens sentem na pele os problemas da corrupção, da pobreza e da falta de apoio das instituições. Os personagens estão sempre sozinhos, por contra própria, contra as mazelas do Rio. Talvez essa seja a mensagem do filme, trazer os problemas da nação bem na frente dos olhos da (não tão) protegida classe média. O filme termina indefinido, não se sabe se o final vai ser feliz ou não. Mas e no nosso dia-a-dia? A gente sabe se vai terminar tudo bem com o Brasil e o Rio? Quem sabe sim, e um dia, nas palavras do grande Nelson Cavaquinho (cuja música supracitada toca nos créditos finais), "o amor será eterno novamente"?

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