segunda-feira, agosto 13, 2007

Terra

A Terra era seca e dura e pedregosa e tinha uma cor esquisita e quente. [Era de todas as cores, porque tudo esconde minúsculos pontinhos coloridos, que ninguém nunca viu porque nunca chegou perto o suficiente. O ser humano nunca se aproxima. Pontinhos coloridos. Rosto grudado numa tela de Monet.] Era, mais que tudo, vermelha. Porque era assim que ele sentia ao olhar para ela, ao pisá-la. Um calor imenso e vermelho.

Tudo o que tinha era uma imensidão de sangue empedrado, que nunca havia perdido o calor. Estava ali por quanto tempo podia lembrar. Mas tinha uma memória muito curta. Ou talvez tivesse aparecido ali assim mesmo, de repente, sem história, sem passado. Não se lembrava de ter sido criança, nem de ter visto ali algum outro homem. Não se lembrava de ter comido ou bebido água. Aliás, não se lembrava de ter chovido.

Sabia-se dono do lugar, que sabia também ser imenso. Desde que ali surgiu, preocupava-se em andar por todo lado procurando um limite. Andava quilômetros e quilômetros em direções aleatórias até que parava, elegia outro norte e continuava andando. Seria possível dizer que andava por dias seguidos, se naquele lugar houvesse dias. Mas ali não havia tempo. Não havia noite, nem lua. Olhava para o alto e não via o sol, embora também não visse nuvens.

Cogitava (apenas cogitava) a possibilidade de estar sozinho. Mas como poderia ter certeza? Não se sentia suficientemente digno de ser dono do mundo, por mais que esse tal mundo fosse uma planície vermelha infinita. E qual a grande vantagem de reinar sozinho sobre o nada? Não se sentia orgulhoso. Também não se sentia miserável. Simplesmente não sentia. Indiferente, apenas andava.

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2 Comments:

Blogger Bernardo Tonasse said...

Alguém anda soltando a pena... :)

00:16  
Anonymous Anônimo said...

Soltando a perna?

09:54  

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